Cacis, Poder Público e entidades estrelenses cobram Brigada Militar sobre transferência do 40° BPM para Teutônia
15 de setembro de 2023A Câmara de Comércio, Indústria, Serviços e Agronegócio (Cacis) de Estrela, Poder Público – Executivo, Legislativo e Judiciário – e demais entidades estrelenses estiveram reunidas no auditório da Faculdade La Salle para discutir e questionar a Brigada Militar sobre a transferência do 40° Batalhão de Polícia Militar (BPM) para Teutônia. Os presentes demonstraram descontentamento sobre a repentina transferência do BPM para o município vizinho nos últimos dias, em meio às cheias do Rio Taquari.
Neste contexto, as lideranças pontuaram a preocupação quanto à um possível redução de efetivo de policiais nas ruas e o consequente aumento da criminalidade, tendo em vista a proximidade com Lajeado, onde as duas maiores facções do Estado já estão presentes. A transferência da sede em meio a uma das piores enchentes do Rio Taquari, que atingiu fortemente Estrela, também não foi bem vista pelas lideranças.
No entendimento do presidente da Cacis, Gerson Strehl, a comunidade estrelense deveria ter sido consultada antes de qualquer tomada de decisão, tendo em vista que o poder público municipal disponibilizou recursos para a construção de um novo quartel. “Nossa comunidade está mobilizada e entende que o atual espaço que vinha sendo utilizado pela Brigada Militar está em área alagável. Todos os entes aqui reunidos estavam buscando soluções para resolver este problema, inclusive com terreno, recurso e vontade disponíveis. Para nossa surpresa, soubemos pela imprensa que o Batalhão foi transferido para Teutônia”, pontua.
O prefeito de Estrela, Elmar André Schneider, classificou a decisão como um golpe contra o município. “No momento de tragédia, onde perdemos vidas, 84 casas de Estrela foram levadas pelas águas e quase três mil casas precisarão ser reconstruídas, vemos pela imprensa este duro golpe. Nós não vamos aceitar esta transferência. Esta luta é nossa e nós vamos brigar bonito”, exclamou.
O presidente da Associação Estrelense Pró-Segurança Pública (Aespro), Rodrigo Tomasi, da mesma forma, lamentou a ida do 40º BPM para Teutônia em meio à enchente. “Foi nos falado que seria uma decisão provisória, mas estamos vendo que isso se torne permanente, o que nos causa muita preocupação. O nosso interesse é que o Batalhão fique aqui, pois Estrela tem risco por causa das facções que estão atuando em Lajeado. Estrela é mais vulnerável”, colocou.
O assessor jurídico da Aespro, Nicholas Horn, afirmou que a decisão vai ter impacto na sociedade civil no que tange à segurança pública. “Há recurso disponível para construirmos a nova sede do BPM. Não adianta toda esta mobilização se o comando não tem a intenção de trazer o 40º BPM de volta a Estrela. Vai ser feito todo um investimento sem termos certeza do retorno por parte do Estado”, pontuou.
Ao final do encontro, ficou definido que o grupo presente elaborará um documento e se reunirá com as instâncias superiores da Brigada Militar, bem como com a Secretaria Estadual de Segurança Pública e, se necessário, com o Governo do Estado o mais breve possível. O objetivo é reverter a decisão, para que o 40º BPM retorne à Estrela.
O que diz a Brigada Militar
O comandante do 40º BPM, major Fábio Kuhn, foi convidado para participar da reunião com o objetivo de prestar esclarecimentos sobre a decisão da Brigada Militar. Kuhn deixou claro que a decisão foi do Comando Geral, não cabendo a ele qualquer decisão contrária.
O major, em seguida, explicou que somente a estrutura administrativa do 40º BPM está sendo transferida para Teutônia. “Ou seja, somente eu estarei indo para lá. A equipe administrativa ficará em Estrela, representando cinco a seis policiais a mais nas ruas. Lá em Teutônia, será montada uma nova equipe administrativa. Em síntese, o policiamento de Estrela não terá prejuízo”, colocou.
O comandante ainda agradeceu todo o empenho que a comunidade estrelense teve em favor ao BPM. “Reforço: operacionalmente Estrela não terá prejuízos. A gestão será por lá, mas não interfere em Estrela. Não deixaremos de dar atenção à Estrela por estarmos em Teutônia”, afirmou.
O 40º BPM é responsável por 11 municípios da margem esquerda do Rio Taquari: Estrela, Colinas, Imigrante, Westfália, Teutônia, Paverama, Poço das Antas, Fazenda Vilanova, Tabaí, Taquari e Bom Retiro do Sul. São três companhias sediadas em Teutônia, Estrela e Taquari, subdividindo a responsabilidade sobre os demais municípios.
Por a atual sede da Brigada Militar estar localizada em uma área alagável, a comunidade estrelense vinha pleiteando a construção de uma nova sede, sendo que atualmente o município já tem disponível o recurso e o espaço para executar a obra. Devido à recente enchente, o atual espaço foi novamente tomado pelas águas, sendo que as operações da Brigada Militar foram transferidas provisoriamente para a antiga sede da Previdência Social, local amplo que, se necessário, poderá ser definitivo.
Demais manifestações
O 1º promotor de Justiça de Estrela, André Costa, pontuou que a decisão do Comando em transferir a sede do 40º BPM para outro município vai na contramão do desenvolvimento que Estrela tem experienciado ultimamente. “É uma decisão puramente política. Estamos tendo um rebaixamento de batalhão para companhia, decisão que em algum momento vai afetar Estrela. Temos terreno, temos recurso e temos vontade para fazer a nova sede. Em último caso, se faz um batalhão em Estrela e outro em Teutônia”, expôs.
O vice-presidente da seccional de Estrela da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Gentil Krahl, também lamentou a decisão da Brigada Militar, especialmente por ela ter sido tomada em meio à enchente e sem prévia comunicação à sociedade estrelense. “A OAB está à disposição da comunidade para que esta decisão seja revertida”, salientou.
Da mesma forma, o secretário municipal de Administração e Segurança, Cesar Augusto Pereira, afirmou que a decisão do Comando foi equivocada na hora errada e divulgada de forma errada. “Já fui comandante do 40º BPM e sei que a localização do mesmo em Estrela é privilegiada por diversos aspectos. A presença de um batalhão é muito representativa. Então, antes de qualquer decisão devia ter tido diálogo com a comunidade local. Temos que, enquanto sociedade, nos mobilizar contra este retrocesso e pressionar as forças políticas para reverter esta decisão”, ressaltou.
CRÉDITOS DO TEXTO: Édson Luís Schaeffer